segunda-feira, 4 de julho de 2011

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O Auto da Liberdade - Parte II - 20 de Setembro de 2010 às 21:23

O espetáculo “Auto da Liberdade”, que é encenado anualmente em Mossoró nos dias que precedem o trinta de setembro, é composto de quatro atos: a Libertação dos Escravos, a Revolta das Mulheres, a Defesa de Mossoró contra o bando de Lampião e o Primeiro Voto Feminino. O texto é de autoria do poeta Joaquim Crispiniano Neto.
Na primeira parte desta matéria tratamos de explicar como se deu a Libertação dos Escravos em Mossoró. Trataremos agora do episódio que ficou conhecido como a Revolta das Mulheres ou Motim das Mulheres de Mossoró.
O Motim das Mulheres de Mossoró foi um movimento de protesto ocorrido em 30 de agosto de 1875, contra a obrigatoriedade do alistamento militar para os jovens.
Corria o ano de 1875 e o país vivia uma fase de intensa vibração partidária. Vários movimentos populares estouravam no Brasil e o clima se agravou mais com a queda do Gabinete de 7 de março de 1871, presidido pelo Visconde do Rio Branco. Para substituir o Visconde, o Imperador convidou o Duque de Caxias para organizar o Ministério de 25 de junho. Ao assumir o Ministério, no entanto, Caxias deparou-se com uma medida extremamente impopular: o Decreto nº. 5.881 de 27 de janeiro de 1875, que aprovava o regulamento do recrutamento para o Exército e Armada. O objetivo do recrutamento obrigatório era de dotar o país de uma tropa de reserva treinada e não, como é anunciado por alguns órgãos da mídia, recrutar soldados para a Guerra do Paraguai, visto que a Guerra havia terminado desde 1870. Mas o recrutamento, que no momento era indispensável e lógico, exasperou o povo e constituiu elemento poderoso de irritação coletiva. E em quase todo o país estalaram tumultos provocados pela aplicação da lei do recrutamento.
No Rio Grande do Norte vários protestos populares surgiram contra a aplicação da tal lei. Em Arês, a 1º de agosto, homens e mulheres seguidos por um grupo de indígenas armados de faca e cacetes invadiram a Igreja Matriz e destruíram tudo que dizia respeito ao recrutamento como livros, papéis e editais. No mesmo dia, no município de Canguaretama, um grupo de homens e mulheres invadiram a Igreja onde estava sendo feito o alistamento, rasgando e queimando toda a documentação. Nessa luta, o capitão João Paulo Martins Nanninguer mandou dispersar o movimento à baioneta e ficaram feridas dezesseis pessoas. No município de Goianinha ocorreu movimento idêntico.
Em Mossoró, o movimento não passou em branco. Mais uma vez a fibra do povo mossoroense foi mostrada. Ninguém desejava que seus filhos fossem apanhados para o serviço militar, notadamente quando era sabido das intenções dos chefes políticos dominantes em darem preferência a filhos de adversários. Foi aí que um grupo de mulheres, inspiradas nos movimentos que estavam acontecendo no restante da Província, promoveram uma manifestação e conseqüente passeata pelas ruas da cidade, rasgando os editais afixados na Igreja de Santa Luzia como também livros e papeis relativos ao alistamento, encaminhado-se depois a redação do jornal O Mossoroense, onde destruíram cópias dos editais que ali estavam para serem publicados. Saindo dali, foram para a Praça da Liberdade, onde entraram em luta corporal com os soldados que haviam sido enviados para dominar a rebelião, tendo como resultado algumas mulheres feridas, só não assumindo conseqüências mais graves graças a interferência de outras pessoas que se encontravam no local.
O movimento contou com a presença de mais de 300 mulheres, que eram chefiadas por Ana Floriano, uma mulher alta, forte, de olhos azuis e cabelos louros, que vinha a ser a mãe do jornalista Jeremias da Rocha Nogueira, fundador do jornal O Mossoroense. Outras mulheres que se destacaram no movimento foram Maria Filgueira, esposa do Capitão Antônio Secundes Filgueira e Joaquina Maria de Góis, mãe do historiador Francisco Fausto de Souza.
A 31 de agosto a Câmara Municipal comunica ao Presidente da Província o fato ocorrido. Este, por sua vez, exigiu que fosse feito um inquérito para levantar a responsabilidade pelo movimento, pedindo urgência nas providências e oferecendo, inclusive, reforço policial se necessário fosse. A peça processual, no entanto, desapareceu do arquivo do Departamento da Segurança Pública, não sendo tomadas outras providências.
Em ofício de 4 de setembro do mesmo ano, o Juiz de Direito de Mossoró, Dr. José Antônio Rodrigues, narra sua versão dos fatos ao Presidente da Província, Dr. João Bernardo Galvão Alcoforado Júnior. Na versão do Juiz, o movimento contava com um grupo de 50 a 100 mulheres, capitaneadas por D. Maria Filgueira, mulher do Capitão Antônio Filgueira Secundes, 3º Suplente de Juiz Municipal e D. Maria de Tal, mãe do jornalista Jeremias da Rocha Nogueira, pretenso chefe liberal.
O que diferenciou o movimento de Mossoró com os dos demais municípios, foi o fato de aqui ter surgido entre as mulheres, não tendo sido registrado a presença de nenhum homem. Eram mães, mulheres, irmãs e noivas defendendo os seus filhos, maridos, irmãos e noivos. Foi mais um capítulo da luta do povo mossoroense na defesa dos seus direitos e da sua liberdade.

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