Um nome que nunca sairá da história
Era mais um dia ensolarado na cidade potiguar de Mossoró. Em toda as partes da sossegada cidade, o céu se mostrava límpido e radiante, anunciando o começo de mais um dia de tranqüilidade e sol forte para aquecer e animar toda a população local.
Porém, enquanto todos os cidadãos seguiam suas vidas, na região central da cidade aconteceria um fato que mudaria sua concepção...
* * *
No centro da cidade, a fleuma imensa levou o museu Lauro da Escóssia a entrar em um sereno cochilo. Ele sonhou com a época em que ainda era uma simples cadeia, porém foi acordado com uma voz o chamando...
Despertado do seu sono, o museu Lauro da Escóssia, percebeu que a voz que o chamava era na verdade a sua velha companheira Rosa dos Ventos:
- Museu, museu...
- Sim, Rosa, estou acordado, pode falar.
- Ontem estava aqui com meus pensamentos, quando um grupo de garotos chegou e iniciou-se uma conversa. A princípio, achei que eram mais um grupo de jovens conversando, porém depois de observá-los, percebi que não eram apenas jovens. O nível do diálogo era altíssimo e, por isso, passei a acompanhá-los. Até que eles começaram a falar sobre um “Senhor Lauro da Escóssia”. Atribuíram-lhe várias qualidades e devido a tantos elogios fiquei curiosa em saber quem seria esse nobre homem. Então, hoje pela manhã quando os primeiros raios do sol me despertaram, lembrei-me que tu também tens este nome: Lauro da Escóssia!
- Sim, meu nome completo é Museu Municipal Lauro da Escóssia.
- Porque você recebeu o nome dele?
- Lauro da Escóssia dedicou os últimos anos de sua vida a mim. Mas seu nome, ou melhor, meu nome, não parou por aqui, também foi dado a uma das ruas do Abolição IV na década de 80 através de um decreto do então prefeito Dix-huit Rosado em reconhecimento a sua contribuição sociocultural dada a cidade.
- Que bom! Então me diga quem foi esse fantástico homem do qual você recebeu o nome.
- Lauro da Escóssia era filho de João da Escóssia e Noemi Escóssia. Se não me falha a memória ele nasceu em 14 de março de 1905. Tinha um temperamento forte, homem sério, em certos momentos estourava com todos, porem alguns minutos depois já estava sorrindo.
- O que ele fez? Como ficou famoso a ponto dos jovens debaterem sobre sua vida?
- Lauro foi de tudo um pouco. Foi desportista, sendo diretor do Clube Atlético de Mossoró, Humaitá Futebol Clube, e da Associação Mossoroense de Desportos Atléticos. Ele também foi professor primário da rede publica, formado pela Escola Normal e trabalhou 33 anos na área. Fundou a loja Maçônica João da Escóssia, se tornando o primeiro a ocupar o cargo de venerável e também dirigiu a Liga Operaria de Mossoró.
- Nossa, não é a toa que ele é tão popular...
- Ainda tem mais... Foi presidente do Tiro de Guerra e do Centro Regional dos Escoteiros de Mossoró. Integrou o Partido Popular e o Partido Republicano. Também foi secretário das administrações municipais de Padre Mota, Dix-sept Rosado e Jorge Pinto.
- E ele ainda teve tempo pra ser político?!
- Não diretamente. Ele chegou a ser convidado duas vezes para ser candidato a deputado estadual, mas recusou e ficou exercendo indiretamente o cargo de político através do seu jornal.
- E ele tinha até um jornal?
- Sim! Desde os 17 anos ele já escrevia crônicas para jornais como “O Humaitá” e “O esportivo”. Quando chegou a se tornar o diretor de “O mossoroense” em 1946, dedicou toda sua vida ao jornalismo. Chegou a ser correspondente de vários jornais e colaborou com vários outros. Era tão trabalhador que muitas vezes dormia na sede do jornal e ao acordar no dia seguinte ia direto ao mercado para acompanhar as noticias e fazer compras para a sua família.
- Isso sim é que é dedicação ao seu emprego... Ah! Lembrei-me de algo que os jovens comentaram que me deixou intrigada
- O que Rosinha?
- Os jovens falaram que Lauro da Escóssia foi responsável por um do maior furo de reportagem da história do Rio Grande do Norte. Que furo foi esse?
- Ah! O furo! Foi um fato importantíssimo para a historia do jornal “O mossoroense”.
- Ai, diga logo museu! Não me deixe ansiosa!
- Lauro da Escóssia entrevistou aqui mesmo, dentro de mim, o cangaceiro Jararaca que tinha sido gravemente ferido e capturado quando invadiu Mossoró, juntamente com o resto do bando de Lampião.
- Me lembro que os jovens disseram que foi a reportagem de repercussão nacional e que o cangaceiro cedeu a reportagem a Lauro da Escóssia antes mesmo de depor em inquérito policial.
- Sim, isso foi verdade. Jararaca contou muito sobre sua vida de cangaceiro e sobre sua vida pessoal. Se não estou enganado, a manchete da reportagem era a seguinte: “Hunos da nova espécie”.
- O jornal “O Mossoroense” deve ter tido muita prosperidade.
- Com certeza. Porém, nem sempre as coisas se encontravam muito boas.
- Como assim?
- Em 1963, o jornal teve que fechar as portas, pois a situação econômica não permitia “O Mossoroense” de continuar funcionando. Apenas uma pequena gráfica ficou funcionando, e esta era sustentada basicamente por um de seus filhos.
- Que pena. Mas ele nunca mais foi reaberto?
- Claro que foi. Em 1970, suas portas estavam abertas novamente para transmitir as informações e noticias para todos os cidadãos. Entretanto em 1975, o jornal foi vendido à família Rosado. Porem Lauro continuou sendo um colunista de grande repercussão.Ele nunca deixou de ser fiel a suas idéias durante os 30 anos que ficou a frente do seu querido jornal.
- Provavelmente Lauro deve ter sido um grande escritor. Ele chegou a escrever algum livro?
- Sim, vários livros. Em 1978 publicou o livro “As dez Gerações da Família Gamboa”. Nesse livro ele relatou as origens da família Gamboa baseada na historia dos descendestes do patriarca da família Alferes Manuel Nogueira de Lucena. O seu segundo livro “Memórias de um jornalista de província”, publicado no ano de 1981 fala sobre sua vida como fundador de varias entidades esportiva e narra fatos como a chegada do primeiro carro e avião na nossa cidade, alem de relatar o ataque do bando de Lampião. Em 1982 foi lançado “Futebol da gente” comentando os fatos históricos do esporte em Mossoró. No ano de 1983, dois livros foram lançados por ele: “Cronologias Mossoroenses”, onde foi feita uma síntese sobre a historia de Mossoró e “Desfolhando a Saúde” onde Lauro da Escóssia reuniu textos de sua irmã Maria Escossilda.
- Ele era um homem bem atarefado. Também muito determinado. Realmente Lauro da Escóssia merece a fama que o procede. Ele chegou a lançar outros livros?
- Chegou. Em 1986 Lauro lançou a sua penúltima obra literária, “Anedotas do Padre Mota - Vultos Populares e Outras Coisas de Mossoró...”. Esse livro foi dividido em três partes: a primeira reúne contos e piadas produzidas pelo ex-prefeito e vigário da Diocese de Mossoró, Padre Mota. Na segunda parte ele faz relatou às histórias populares com que conviveu e na terceira parte do livro encontram-se crônicas sobre a cidade de Mossoró. Finalmente em 1988 lançou seu ultimo livro, “A Maçonaria em Mossoró”, que fala da historia da instituição desde os tempos primórdios na cidade.
- Lauro tinha uma vida social muito corrida. Coitada da família dele!
- Por que “coitada da família dele”?
- Ora, com tudo isso, ele não tinha tempo pra eles...
- Claro que tinha! O relacionamento com seus filhos era maravilhoso, e este se repetiu com os netos. Lauro era tão querido pelos netos, que estes o chamava de “vôzinho”.
- Sua família era grande?
- Era muito grande. Lauro foi casado duas vezes. Seu primeiro casamento foi com Dolora Azevedo de Couto Escóssia e teve oito filhos com ela.
- Já sei que eles se separaram porque ele não tinha tempo pra ela. Bem que eu já sabia!
- Nada disso!Depois de certo tempo casados, Dolora faleceu.
- Ah! Que pena... Mas e seu segundo casamento? Com quem foi?
- Lourdes Alves da Escóssia. Esse segundo casamento não resultou em filhos, apesar de Lauro ter adotado os filhos de Lourdes. Se manteve até uns 18 anos atrás quando a morte o levou.
- E como é que você sabe tudo isso sobre ele?
- Algum tempo antes de Lauro falecer ele disse aqui mesmo: “Sei que vocês vão me enterrar, mas a minha alma vai ficar aqui dentro”.
- Ahhhhhhhh! Quer dizer que você é Lauro da Escóssia?!
- Não personificado, mas sei que sua alma está em mim!
Dito isto, o repórter de um jornal conceituado da cidade que estava ao lado registrando tudo, correu para a sede de seu jornal e publicou o diálogo, e o enviou para todos os jornais do país, achando ele que todos deveriam saber do nome que fez uma história tão fascinante. E a exemplo para os jovens do país, foi-se criado o Prêmio Cultural Lauro Da Escóssia, que seria entregue uma vez ao ano a alguém que como nosso belo escritor, poeta, político, jornalista, contribuiu de alguma forma para a cultura de uma cidade. (sic)
Maykon Cleyton Fernandes Montenegro - Aluno da 1ª série III do CDSL.